Como
é ser difícil ser um gato nos dias de hoje e pior do que ser gato, é ser gato doméstico!!
Já
alguém pensou em como é difícil ser gato?
Dormir,
comer, viver numa casa confortável, brinquedos com guizos, dormir mais.
Há
pouco apercebi-me que aqui em casa temos um dilema.
Tenho
uma gata que não aceita o seu estado gatil e neste momento, sinceramente, até eu
gostava de ter a vida da minha gata e muito…
Porque
será que nunca estamos satisfeitos?
Porque
será assim o ser humano, a querer sempre mais ou algo diferente?
Quem
diria que até os gatos pelos vistos vivem com o mesmo dilema que nós.
Acredito
que não são todos.
Pelo
menos a minha gata sim.
Não
tenho qualquer dúvida.
A
minha Maria Beatriz vive uma vida que não é, nem de perto nem de longe, a vida
que ela escolheu.
Ela
tem comida, agua, cama, um lar, família, brinquedos, tudo o que um gato podia
querer.
Mas
ela não quer nada disso…
Para
falar a verdade ela até tem bem mais, tem mais gatos para brincar, tem cães,
tem uma coelha que é o único animal cá de casa que ela adora, e até tem um
porco.
Neste
preciso momento, olho para ela deitada em cima da mesa da cozinha.
Ela
é pequena, tem um pelo lindo e fofo em tons castanhos, preto e branco, patas
pretas de luva branca.
Olha
para mim com aqueles grandes olhos azuis e suspira.
Oiço
ufff… e detesto quando ela o faz. Enche os pulmões e uffff…
E
eu acredito que ela pensa: “ela está a olhar, lá vem esta gaja tocar-me”.
Como
é difícil resistir tocar-lhe… e eu não resisto.
Estico-me
para lhe tocar, ainda nem lhe toquei, e ela miauuuu: “não me toques”.
Festas
e miminhos são para animais domésticos, animais dependentes de um dono: “Eu não
sou o teu animal”.
Para
quem não conhece a minha Bia informo: não, ela não foi encontrada na rua, não
teve uma infância má, nem nenhum passado trágico.
Nascida
e criada em casa, o seu lar sempre foi um mundo muito pequeno para ela.
Sempre
que pode ela marca a sua posição: “não sou o teu pet tu é que és o meu,
habitua-te”.
Sempre
que entra um animal novo cá em casa ela mia para mim: “outro???” e mais um
uffff.
Ainda
me lembro do dia em que estávamos no terraço e ela viu a minha cadela Nina no
telhado do outro lado da rede. Abriu os seus grandes olhos, olhou para mim e a
cara de espanto dela foi: “como é que ela chegou ali? Dá para ir para ali? EU
QUERO IR”.
A
Bia quis e a Bia na primeira oportunidade foi.
E
não vai mais porque não a deixo ir lá fora, pois por ela vivia perdida nos
telhados vizinhos.
E
assim vive a Bia, fechada entre quatro paredes num dia quente de verão, numa
casa cheia de espaço, água fresca, comida, mimos, aborrecida… como eu gostava
de estar aborrecida como ela, dormir o dia inteiro, comer, dormir mais… ou só
simplesmente dormir, que saudades.
Então
aqui estamos, as duas na cozinha, olhando uma para a outra, eu desejando trocar
de lugar com ela nem que seja por um dia, uma tarde, uma hora… e ela, bom ela ,
por ela, para sempre…