terça-feira, 9 de julho de 2013

Ser ou não ser... gato, eis a questão

Como é ser difícil ser um gato nos dias de hoje e pior do que ser gato, é ser gato doméstico!!
Já alguém pensou em como é difícil ser gato?
Dormir, comer, viver numa casa confortável, brinquedos com guizos, dormir mais.
Há pouco apercebi-me que aqui em casa temos um dilema.
Tenho uma gata que não aceita o seu estado gatil e neste momento, sinceramente, até eu gostava de ter a vida da minha gata e muito…
Porque será que nunca estamos satisfeitos?
Porque será assim o ser humano, a querer sempre mais ou algo diferente?
Quem diria que até os gatos pelos vistos vivem com o mesmo dilema que nós.
Acredito que não são todos.
Pelo menos a minha gata sim.
Não tenho qualquer dúvida.
A minha Maria Beatriz vive uma vida que não é, nem de perto nem de longe, a vida que ela escolheu.
Ela tem comida, agua, cama, um lar, família, brinquedos, tudo o que um gato podia querer.
Mas ela não quer nada disso…
Para falar a verdade ela até tem bem mais, tem mais gatos para brincar, tem cães, tem uma coelha que é o único animal cá de casa que ela adora, e até tem um porco.
Neste preciso momento, olho para ela deitada em cima da mesa da cozinha.
Ela é pequena, tem um pelo lindo e fofo em tons castanhos, preto e branco, patas pretas de luva branca.
Olha para mim com aqueles grandes olhos azuis e suspira.
Oiço ufff… e detesto quando ela o faz. Enche os pulmões e uffff…
E eu acredito que ela pensa: “ela está a olhar, lá vem esta gaja tocar-me”.
Como é difícil resistir tocar-lhe… e eu não resisto.
Estico-me para lhe tocar, ainda nem lhe toquei, e ela miauuuu: “não me toques”.
Festas e miminhos são para animais domésticos, animais dependentes de um dono: “Eu não sou o teu animal”.
Para quem não conhece a minha Bia informo: não, ela não foi encontrada na rua, não teve uma infância má, nem nenhum passado trágico.
Nascida e criada em casa, o seu lar sempre foi um mundo muito pequeno para ela.
Sempre que pode ela marca a sua posição: “não sou o teu pet tu é que és o meu, habitua-te”.
Sempre que entra um animal novo cá em casa ela mia para mim: “outro???” e mais um uffff.
Ainda me lembro do dia em que estávamos no terraço e ela viu a minha cadela Nina no telhado do outro lado da rede. Abriu os seus grandes olhos, olhou para mim e a cara de espanto dela foi: “como é que ela chegou ali? Dá para ir para ali? EU QUERO IR”.
A Bia quis e a Bia na primeira oportunidade foi.
E não vai mais porque não a deixo ir lá fora, pois por ela vivia perdida nos telhados vizinhos.
E assim vive a Bia, fechada entre quatro paredes num dia quente de verão, numa casa cheia de espaço, água fresca, comida, mimos, aborrecida… como eu gostava de estar aborrecida como ela, dormir o dia inteiro, comer, dormir mais… ou só simplesmente dormir, que saudades.
Então aqui estamos, as duas na cozinha, olhando uma para a outra, eu desejando trocar de lugar com ela nem que seja por um dia, uma tarde, uma hora… e ela, bom ela , por ela, para sempre…
 
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O amor é...

Hoje, enquanto pesquisava sobre um tema que nada tem haver com amor, deparei-me com este pequeno texto, extrato de um livro que já li há muito tempo, mas que me ficou na memória.
O amor é, dito pelo autor e bem dito, fodido.
Como eu concordo com ele...
E enquanto relia o texto pensava na minha vida, nas escolhas que fiz, nas pessoas que se cruzaram na minha vida e como o amor para mim tem sido... fodido.
Leitura obrigatória.


"Precisava de fugir. Era uma necessidade constante. Se não fosse o amor, de que poderíamos escrever ou fugir? Eu escrevia-te mentiras que eram quase verdade: que queria fugir para dentro de ti, invadir-te com fúria de te ver ininterruptamente, de não conseguir impedir-me de ficar ali parado a olhar para ti. Tu fazias pior. Ficavas calada e deixavas-te invadir. Atiravas os pulsos para as almofadas antes de eu poder fingir que tos ia prender. Mas era bom. Nota: era melhor assim.
O amor é fodido. Nunca sabemos se estamos a dar ou a receber. Os teus poemas também eram ricos. Transcrevo um de memória, para gáudio de quem nos estiver a ler: «A quem, a quem hei-de-me dar; eu que já soube o que dava e agora não sei mais nada? A quem hei-de dar a verdade que guardo tão mal, tal é o mal que ele me faz: dar-me vida e nada mais.»
Escrevemos coisas parvas, perguntas já previamente concebidas para obter respostas rápidas. Até parece que estamos a falar. Num dos nossos quartos. "


Miguel Esteves Cardoso in "O amor é fodido"