terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um dos meus livros preferidos figura há anos na minha cabeceira.
Troquei de casa e ele apenas trocou de lado.
Continua ali... Comigo...
Há muito que não o abria...

Cão Como Nós – Manuel Alegre

“Sei muito bem que as pessoas saem dos retratos, sei isso desde pequeno, ma tu não, estás proibido de voltar a fazer o que fizeste esta noite, não posso entrar na sala e ver outra vez a tua moldura vazia.”

“Zanguei-me com toda a gente, não me deixes agora, é em momentos assim que um homem precisa do seu cão.”

“Este filho da mãe podia ser um bom cão, é pena não estar para isso.”

"Alguém falou da tristeza e do vazio do olhar dos animais.
Vi a tristeza, em certos momentos, no olhar do cão. A tristeza de quem quer chegar à palavra e não consegue. Mas não vi o vazio. O vazio está talvez nos nossos olhos.
Quando por vezes nos perdemos dentro de nós mesmos. Ou quando buscamos um sentido e não achamos.
O cão sabia o sentido, o seu sentido. e nunca se perdia."

Uma confissão amorosa do dia a dia do cão, que não sendo humano, era cão como nós.
Quem tem cão ou teve cão, reconhece cada patada, cada atitude, cada asneira, cada alegria, que é descrita no livro.
Ao passar das páginas temos os relatos alternados de um dono de um cão que mesmo depois de este morrer o continua a sentir como se ele se tivesse tornado apenas invisível, como se continuasse a existir.
Ouve-o. Sente-o. Quase que o vê.
Porque o luto, quando perdemos um amigo é tão doloroso como o luto de outro amor qualquer.
Sei o que um dia, cada vez mais breve, me espera…
O meu cão tem 14 anos, e embora continue um “cachorrinho”, este verão pela primeira vez, já notei o peso da idade a querer fazer-se notar.
Mas, por enquanto, ele continua por cá…
Cheio de energia, sempre a tentar entrar na cozinha… e ai vai ele, direitinho ao balde do lixo.
Até a gata se assusta quando vê o “preto” a correr de rompante e a passar por ela.
Mas ele nem a vê…. o balde do lixo é o seu alvo.
Isso ou roubar a bola à Nina constantemente numa brincadeira que ela abomina.
Numa vida de cão, até para ser cão é preciso ter sorte e quantos de nós já não tiveram um cão que sendo um "cão cão" era na realidade um cão como nós, parte de uma mesma família....

O meu paragrafo preferido:

"Nunca como então eu senti o cão tão perto de nós. Sem propriamente ter mudado de feitio, ele estava por assim dizer mais atencioso, seguia-nos pela casa toda, estava, como nós, à espera, como nós, digo bem, como se fosse um de nós. E tenho de reconhecer que era. Um grande chato, sim, um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós".

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Passamos imenso tempo centrados no futuro, a planeá-lo, a trabalhar para ele, mas a determinada altura começamos a perceber que a vida existe no presente.
Não depois de isto... e daquilo...
Agora.
É isto. Está aqui.
Basta um piscar de olhos para a perdermos de vista.
Dissemos,
Eu amo-te?
Nunca mais quero viver sem ti?
Mudaste a minha vida?
Fazes-me tão feliz?
Obrigado por me apoiares?
Dissemos?
Fazemos um plano.
Definimos um objectivo, trabalhamos para ele.
Mas, de vez em quando, devemos olhar à vossa volta.
Absorver tudo muito bem.
Porque é mesmo assim.
Amanhã, tudo pode já ter desaparecido.